A nossa vida em
grande parte compõe-se de sonhos. É preciso ligá-los à acção.
Anais Nin
No próximo dia 5 de Novembro vai ter inicio a viagem do Pé de Vento para
Lisboa, Portugal, com uma primeira perna com cerca 3.050 milhas, para ligar
Luanda, Angola, a Mindelo, ilha de S. Vicente, em Cabo Verde.
O Lais de Guia irá acompanhar de perto esta aventura, com apontamentos
diários, destes dois grandes amigos e companheiros de mar, de forma a informar
todos os familiares, amigos e amantes destas lides do desenrolar desta viagem.
Podem encontrar uma etiqueta no lado esquerdo
da página chamada “Pé de Vento” que filtra todas as informações sobre a viagem.
Poderão, também, subscrever (no final da página "Follow by e-mail") o blogue e receber por e-mail
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Tudo acontece muito de repente. Uma mudança na vida profissional de um
dos participantes abre esta janela, levar o barco para Lisboa. Assim desenha-se
esta aventura, que fica definida em três pernas, a primeira Luanda/Mindelo, uma
segunda, Mindelo/Ponta Delgada (Açores) e por ultimo Ponta Delgada até Lisboa.
Estas duas ultimas ainda sem data marcada.
Na verdade, é a ligação á realidade de um sonho que estava latente deste
longa data nos dois tripulantes desta viagem. Permito-me dizer que este sonho
está presente no intimo de todos nós!
Assim teremos um dos armadores a bordo, António Franca, acompanhado pelo
Luís Cochofel.
António
com a bela barracuda e Luís a avaliar a dentição da dita!
A forte amizade que une estes dois amigos, que navegam juntos no Pé de
Ventos á mais de um par de anos, confirmam assim a solidez da tripulação, bem
como o conhecimento da embarcação para enfrentar este desafio com cerca de 25 dias de
mar.
Num tempo recorde os tripulantes, ajudados por um leque alargado de
amigos, dos quais devo salientar o Ricardo Andrade, também ele armador do Pé de
Vento, o incansável Artur Osório, homem
das eletricidades e electrónicas, Helder Brito da embarcação Dolce Vita,
Capitão Vingança, um dos homens de terra a dar apoio com o seu conhecimento,
meteorologia e acompanhamento rádio, sempre a bordo neste projecto deste a
primeira onda até ultima vaga, ao Paulo Correia com o seu conhecimento, larga
experiencia de mar e montagem de equipamentos, bem como ao Clube Naval de
Luanda e claro está ao Lais de Guia, na pessoa do seu timoneiro, Moiriche
(Eurico Corvacho).
Iniciou-se a contagem decrescente para a partida e fica aquela estranha
sensação de aperto na barriga...
O fim-de-semana passado o barco teve o seu grande teste de mar ao
participar na Regata de Abertura, que deu inicio á época de regatas em Angola,
com uma bela vitória para marcar a despedida.
As cercas de 100 milhas percorridas permitiram testar equipamentos, desde
velame, electrónicas, entre outros.
Tudo respondeu em conformidade, estando desta o Pé de Vento pronto para a
viagem.
Pódio
da Regata de Abertura
Neste momento terminam-se ementas, compras e estiva do barco. Os próximos
dias serão dedicados aos últimos acertos, com mais um teste de mar já com a
embarcação parcialmente estivada.
O Pé de Vento é um Miura e abaixo deixo alguns elementos sobre este
projecto de embarcação.
O Miura
Desenho: O Miura foi desenhado pelo Arquitecto
Naval Oswald Berckemeyer, um alemão radicado na África do Sul.
Objectivo: O objectivo principal deste
projecto foi a construção de uma embarcação de baixo custo que tivesse a
capacidade de participar na regata transatlântica, annual, Capetown (África do
Sul) para Rio de Janeiro (Brasil), actualmente a regata vai para o Recife. Uma
distância a proximada de 3.800 milhas, 6.100 km.
Naturalmente
que o projecto tinha que ter em linha de conta as dificuldades oceanicas, assim
como as dificuldades do mar do Cabo da Boa Esperança, ponto mais a sul da
África do Sul, onde o Miura iria ser construido e onde iria navegar.
International Offshore Rules (IOR): O Miura foi projetado de
acordo com as regras da IOR. Ao abrigo destas regras, os
barcos foram concebidos de forma a serem seguros no mar e
foram pensados de forma a obterem o melhor rating possível ao abrigo das
regras IOR. A forma do casco, quando visto numa
secção transversal, verifica-se que grande parte dele se encontra a baixo
da linha de água e tem uma linha arredondada, melhorando desta forma a
estabilidade e velocidade do barco, criando bastante espaço adicional para a
vida a bordo e estiva.
Reputação: O Miura rapidamente
consolidou uma reputação como sendo um barco seguro, mesmo nas
condições mais extremas. O Royal Capetown Yacht Club afirma que
foram concluídas mais viagens de circunavegação com os Miuras, do que com qualquer
outra classe de veleiros. Basta falar com qualquer proprietário
Miura, particularmente sul-africanos, para saber que o Miura oferece
alojamento confortável e é extramente eficaz em todas as condições
meteorológicas.
Registo do "Pé de Vento": "Pé de Vento", na sua
origem "Wings" já tinha tido quatro proprietários. Fez
uma viagem atlântica para o Recife (Brasil), tendo na sua rota a passagem pela
ilha Stª. Helena (Atlântico). Do Recife andou pelo Caribe onde passou uns
tempos até ao seu regresso à África do Sul. De Capetown parte para Luanda, já
com novo proprietário. Já em Luanda passa para as mãos dos actuais armadores,
António da Franca e Ricardo Andrade.
Distribuição: Estima-se que mais de uma
centena de Miuras foram construídos desde que o primeiro casco foi
lançado à água, por volta de 1970. Ainda hoje se fabricam unidades destas
para os aficionados desta classe. Pela sua popularidade, baixo custo
tendo em conta o cambio favorável do Rand, muitos destes barcos foram vendidos
para fora da África do Sul pelos seus armadores, fazendo com que possamos
encontrar Miuras desde a Europa até à Nova Zelândia. Há cerca de uma
dúzia de Miuras em vários portos na América do Norte.
Associação de Proprietários: Existe uma associação de armadores de
Miuras na África do Sul. No entanto, tendo em conta qua a maioria dos
proprietários estão fora do país, a adesão agora é mais
internacional. As associações dos EUA e do Canadá, podem ser uma fonte
útil para mais informação.
CARACTERÍSTICAS:
O conceito seguido no projecto deste barco, além das regras IOR, foi uma filosofia para manter tudo o mais simples possível. Foi dada especial atenção a: (1), tornar o barco fácil de navegar, e (2), tonar fácil a operação e manutenção de todos os equipamentos do barco. Estes pontos são particularmente importantes quando nos encontramos em lugares remotos e todas as mordomias oferecidas pelas marinas não se encontram disponíveis, meios para retirar os barcos fora de água, sobressalentes, assistência técnica, etc. O resultado final foi um barco facilmente operado em solitário, podendo ser mantido sem a necessidade de recorrer a serviços muito especializados.
Vamos ver as
suas principais características:
Desenho das obras vivas e das obras mortas: O casco foi
arredondado nos lados. Com este desenho conseguiu-se reduzir a área abaixo
da linha de água, obras mortas, reduzindo assim o arrasto e dando um
comportamento suave a navegar. Um dos objectivos do projecto é que a parte do
casco que se encontra acima da linha de água, obras vivas, ofereça o mínimo de
resistência ao vento. Como se pode ver na fotografia o Miura tem uma forma
arredondada das obras vivas, deflectindo assim o vento, esta característica contribui,
igualmente, para a sua estabilidade e velocidade.
Cadaste do leme: A forma como é feita a fixação do
leme faz com que este se encontre protegido de possíveis danos provocados por
objectos submersos indesejados, como por exemplo troncos, lixo, etc ou mesmo
quando a navegar em águas rasas. O sólido patilhão em chumbo aumenta a
estabilidade da embarcação e reforça a protecção do leme. O leme pode ser
removido dentro de água, retirando apenas quatro parafusos.
Cana de Leme: Uma roda de leme pode parecer sexy
num barco, mas esta ocupa muito espaço que é valioso numa embarcação como o
Miura. Além do mais a sua complexidade mecânica, cabos e engrenagens, potenciam
o risco de avaria a navegar. A cana de leme reduz a manutenção e de fácil
intervenção. Outra grande vantagem da cana de leme tem haver com a facilidade
com que podemos mudar o rumo da embarcação, quer em regata, quer para nos
desviarmos de um obstáculo. A resposta de um barco equipado com roda de leme é
sempre mais lenta.
Quilha: Ao contrário a maioria dos veleiros, o Miura tem uma
quilha fina, estreita e profunda, tendo um alinhamento perfeito com o cadaste
de leme. Esta característica dá uma precisão muito grande á embarcação pela
forma como esta corta a água. Este tipo de quilha mostra-se igualmente
vantajosa em situações de difíceis como o encalhar, é sempre mais fácil manobrar
encalhado com esta quilha para alcançar águas mais profundas.
Aparelho: Um barco de regata tem o
mastro mais alto possível para que a área vélica seja a
maior possível. No entanto, mastros altos e grandes áreas
vélicas tornam um veleiro mais instável. Velas grandes requerem
tripulações muito experientes. O topo do mastro do Miura encontra-se a cerca de 14 metros acima da água. Com uma genoa generosa e uma vela grande um pouco mais
pequena melhora significativamente a estabilidade.
Motor: Todos os veleiros de cruzeiro tem um motor auxiliar
para as manobras, para auxiliar em caso de falta de vento ou mudança de
direcção deste. Embora os velejadores tendem a não usar este, apenas em ultimo
recurso. O motor também tem uma função de gerador para carga das baterias de
arranque e de serviço. O nosso Pé de Vento está equipado com um motor diesel
Yanmar de 17 HP.
Grande aventura!
ResponderEliminarMuitas felicidades...