Não deixa de ser um espetáculo digno ver o que se passa num
gigante cumulonimbus em plena atividade de trovoada, sobretudo quando estamos
num local seguro e abrigado.
Mas quando somos apanhados
por este fenómeno no mar, a questão é outra.
Vou falar sobre este tema em
dois bordos, um, este primeiro, em que vou tentar da melhor forma definir o
fenómeno meteorológico em si, e um segundo bordo, que será publicado dentro de
dias, sobre os cuidados que se podem ter na embarcação para minimizar e lidar
com a queda de raios na embarcação.
Não quero deixar de
salientar, que de uma forma geral, em termos de mar, quando falamos de
trovoadas, a maior parte dos navegantes pensa de imediato no raio a cair mesmo
em cima de nós. Certo é que esta é uma das probabilidades, como iremos ver no
segundo bordo, em que as principais vitimas são a electrónica e aparelhos
eléctricos de bordo (numa embarcação protegida), mas não nos podemos esquecer
das rajadas de vento que acompanham uma trovoada e que são, como a trovoada em
si, muito perigosas e com maior probabilidade de fazer estragos. No espaço de
alguns segundos o vento pode subir aos 40/50 nós e assumir uma direcção
contrária á que precedia a sua chegada.
O mais responsável será
sempre evitar estas formações (visíveis ao longe), se fundeados levantar ferro
(fortes probabilidades de desgarrar), se não for possível evitar, baixar todo o pano e
fazer frente ao animal!
A trovoada
constitui um dos mais dramáticos fenómenos meteorológicos.
Uma trovoada consiste num
conjunto de fenómenos intensos associados a cumulonimbus: raios, relâmpagos, rajadas de vento, inundações, granizo e, possivelmente, tornados.
Para uma trovoada se formar
é necessário que exista elevação de ar húmido numa atmosfera instável. A
atmosfera fica instável quando as condições são tais que uma bolha de ar quente
em ascensão pode continuar a subir porque continua mais quente do que o ar
ambiente. (A elevação do ar quente é um mecanismo que tenta restabelecer a
estabilidade. Do mesmo modo, o ar mais frio tende a descer e a afundar-se
enquanto se mantiver mais frio do que o ar na sua vizinhança.) Se elevação de
ar é suficientemente forte, o ar arrefece (adiabaticamente) até temperaturas
abaixo do ponto de orvalho e condensa, libertando calor latente que promove a
elevação do ar e «alimenta» a trovoada. Formam-se cumulonimbus isolados com
grande desenvolvimento vertical (podendo ir até 10 ou 18 mil metros de
altitude) alimentado pelas correntes ascendentes de ar.
As trovoadas podem-se formar
no interior das massas de ar (a partir da elevação do ar por convecção - comum
em terra nas tarde de Verão - quando o aquecimento da superfície atinge o seu
pico - e sobre o mar nas madrugadas de inverno, quando as águas estão
relativamente quentes); por efeito orográfico - (a barlavento das grandes
montanhas) ou estar associadas a frentes - sendo mais intensas no caso das
frentes frias.
As trovoadas mais fortes são
geradas quando ar quente e húmido sobe rapidamente, com velocidades que podem
chegar aos 160 km por hora, até altitudes mais elevadas e mais frias. Em
cada momento há na ordem de 2000 trovoadas em progresso sobre a superfície da
Terra. Os relâmpagos surgem quando as partículas de gelo ou
neve de uma nuvem começam a cair de grande altitude em direcção à superfície e
correspondem à libertação de energia devida à diferença de carga entre as
partículas.
O RAIO
Duas cargas
elétricas de sinais opostos são fortemente atraídas uma para a outra. Contudo,
o ar é fraco condutor da corrente elétrica, não permitindo que estas se
aproximem. Quando o ar que se encontra entre as cargas não consegue impedir a
sua aproximação, dá-se uma descarga elétrica.
Na figura abaixo
apresentam-se os diferentes tipos de raios que ocorrem durante uma trovoada:
raios intra-nuvens, raios entre-nuvens e raios nuvem-terra.
Nos raios
nuvem-terra, as cargas negativas na base da nuvem deslocam-se em direção às
cargas positivas na terra, por impulsos, num percurso aleatório invisível e em
zig zag, chamado de traçador. Estas cargas negativas, também designadas por
eletrões, deslocam-se a velocidades da ordem de 200 km/s. Quando chegam perto
da superfície terrestre (a poucas dezenas de metros), é produzida a primeira
descarga eletromagnética: o primeiro raio. Na sequência do primeiro raio podem
ocorrer raios secundários através do mesmo canal, o que por vezes dá o aspeto
de cintilação do raio. Este processo continua até que não exista diferença de
potencial elétrico entre a nuvem e a terra. Os raios nuvem-terra podem ser
positivos ou negativos. Se o raio ocorre entre a nuvem carregada negativamente
e a superfície terrestre carregada positivamente a polaridade é negativa; no
caso inverso a polaridade é positiva.
Distribuição das cargas elétricas numa nuvem e
tipos de raios.
Os raios com polaridade
negativa são mais frequentes do que os com polaridade positiva. Em termos
estatísticos, as descargas elétricas atmosféricas correspondem a 80% das
descargas que chegam à superfície terrestre e, em média, às descargas positivas
estão associadas maiores quantidades de energia. Na figura que se segue
apresenta-se um esquema de formação de um raio nuvem-terra.
Formação de um raio.
Dimensões e
trajetória do raio
O comprimento de
um raio pode variar entre 0,1 e 20 km e a sua velocidade atinge 40000 km/s,
pouco mais de um décimo da velocidade da luz. O diâmetro da coluna de ar onde
ocorre o raio é aproximadamente 3 cm.
Potência
libertada por um raio
Um raio pode ter
uma corrente elétrica superior a 100Kamp. Em cada segundo o globo terrestre
recebe mais de 3 dezenas de descargas elétricas atmosféricas. A potência deste
“fogo celeste” é da ordem de 700MW; a central termoelétrica do Carregado, no
início do seu funcionamento, tinha uma potência total de 750MW.
Cor do raio
A cor do raio
está associada à composição da atmosfera onde ele ocorre, designadamente:
- Vermelha indica presença de
precipitação na atmosfera;
- Azul presença de gelo /
granizo Amarela indicação de poeiras na atmosfera;
- Branca é sinal de ar muito
seco.
Temperatura do
ar circundante do raio
A temperatura do
ar, ao longo do trajeto do raio, é muito elevada, cerca de 30000ºC (cinco vezes
a temperatura do sol). O ar atravessado pelo raio é assim “queimado”
instantaneamente. Esta temperatura elevada é suficiente para pôr em combustão
qualquer tipo de material combustível, designadamente florestas em dias com
temperatura do ar elevada, humidade relativa baixa e em locais onde não ocorra
precipitação.
Os perigos
associados aos raios
O raio é o
elemento mais perigoso de uma trovoada, uma vez que é portador de grande
quantidade de energia eletromagnética a que se associam temperaturas elevadas,
forças de pressão elevadas e efeitos eletromagnéticos percetíveis a longa
distância.
Um raio que
atinge, por exemplo, um cabo de energia elétrica próximo de uma habitação, que
não esteja devidamente protegida, poderá eventualmente danificar grande parte
dos aparelhos elétricos e eletrónicos. Por outro lado, as temperaturas elevadas
associadas ao raio, podem dar origem a incêndios.
A força de
pressão explosiva que resulta da expansão do ar sobreaquecido pode ser superior
a 50 atmosferas e projetar uma pessoa vários metros. Por fim, os efeitos
eletromagnéticos à distância podem ter consequências graves em equipamentos
elétricos e eletrónicos.
O RELÂMPAGO
O relâmpago
resulta da incandescência do ar sobreaquecido à passagem do raio na coluna de
ar, resultante da conversão da energia eletromagnética em energia calorífica.
Na figura apresenta-se o aspeto de um raio ramificado.
Algumas estatísticas
Na figura apresenta-se o aspeto de um raio ramificado.
Algumas estatísticas
- Ocorrem cerca de 20 milhões
de trovoadas por ano em todo o mundo, que estão associadas a nuvens de
desenvolvimento vertical, em regra cumulonimbus ou altocumulus castellanus
- Diâmetro típico de uma
trovoada: 15 a 25Km;
- Extensão vertical: 10 a 15Km;
- Duração: 1 a 2 horas.
Raios e relâmpagos.
O TROVÃO
O trovão é um
subproduto do raio. Ao longo da trajetória do raio, através da coluna de ar,
com diâmetro de poucos centímetros, ocorre uma expansão brusca do ar
sobreaquecido que origina uma onda de choque que dá origem a ruído
característico: trovão.
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